“Esta publicação é parte integrante do Projeto de mobilização de jovens das periferias, através da LIBBRA 2008 que conta com o financiamento do Ministério da Justiça, por meio do PRONASCI."
Esta edição foi concebida pela CUFA – Central Única das Favelas e desenvolvida por Celso Athayde.
Todos os direitos desta obra são reservados a CUFA
Central Única das Favelas
Rua Carvalho de Souza - 137/111 - Madureira
Rio de Janeiro - RJ - CEP 21350-180 Tel: 21-3015-5927
Concepção e Coordenação do Projeto: CUFA- Central Única das Favelas
Elaboração do Projeto: Fernanda Borriello
Apoio: Ministério da Justiça
Revisão: Fernanda Borriello, Simone Basílio, Claudia Raphael, Ana Paula Sabbag, Gleice Ferreira e Jane Carvalho
Capa e Projeto Gráfico: Galdino e Leandro Gonçalves
Fotos: Fabiana Cruz e acervo pessoal CUFA
Editora: CUFA
Central Única das Favelas-CUFA
Manual dos Basqueteiros 2008/2009
O Manual dos Basqueteiros é o resultado da vontade de alguns “malucos”, que um dia se reuniram em um evento de Hip Hop para bater uma pelada com uma “lata de lixo” e quadra de basquete improvisada.
O QUE É BASQUETE DE RUA?
No ano de 2002, a CUFA – que sempre viu no esporte uma grande ferramenta a ser utilizada para promover a auto-estima da população – criou o primeiro campeonato nacional de Basquete de Rua, o Hutúz Basquete de Rua (HBR), que acontecia dentro do Hutúz Rap Festival, o maior evento de Hip Hop da América Latina. Equipes de 13 Estados brasileiros disputaram o torneio, que teve a duração de três dias.
Apesar de existir até hoje, o HBR se tornou pequeno, três dias já não eram suficientes para comportar o campeonato que atraia cada vez mais times e jovens de todo o país . A CUFA então criou a LIBBRA - Liga Brasileira de Basquete de Rua, que se tornou referência única nesta modalidade cultural-esportiva em dimensão nacional. Essa manifestação espontânea de amor ao basquete e ao Hip Hop, se consolidou enquanto movimento tipicamente urbano e se tornou um elo na relação entre o esporte, a cultura Hip Hop e o movimento social, dando assim, o sentido definitivo ao Basquete de Rua e do qual ele passava a ser uma vertente fundamental.
Uma manifestação esportiva com compromisso cultural e social que vem proporcionando aos jovens amantes da cultura urbana, a relação que transforma esse comportamento em um pólo de comunicação entre os jovens das periferias brasileiras.
Muito conhecido como "basquete-arte", marcado por jogadas geniais, divertidas e pelas diferenciadas dinâmicas de jogo, o Basquete de Rua não se prende às regras convencionais, cria suas próprias.
Elementos importatntes para o Basquete de Rua:
MC’s
Reconhecido personagem da cultura urbana, o MC(ou Mestre de Cerimônia) é a voz ouvida durante os jogos, pois ele fica dentro de quadra narrando todas as ações. Algumas vezes brinca com algum atleta ou alguém da torcida com o objetivo de criar uma maior interação.
Na quadra ele fica responsável por manter a animação da torcida, fortalece o equilíbrio dos jogos, reforça o repertório dos DJs, passa informativos do evento e as informações mais importantes, sinaliza a urgência médica em algum atendimento aos atletas, etc. A LIBBRA trabalha com três MCs oficiais. São eles: Max DMN, Cezinha e Tony Boss.
DJ’s
A música dita o ritmo dos jogos e por isso o som em quadra é muito importante.
O Dj, também conhecido como disc jockey (ou dee jay), seleciona e toca as músicas que rolam nos eventos de Basquete de Rua. Normalmente, o som que rola é o Rap. O DJ está sempre em sintonia com o MC de quadra, contribuindo para a animação do público. Muitos Dj´s já passaram pela história da LIBBRA e outros fizeram história na LIBBRA.
Apresentamos aqui alguns dos DJ`S que contribuíram para ajudar a entender e a conceituar melhor essa história que não pára de crescer.
Libbretes (antigas Cufetes)
As LIBBRETES, anteriormente conhecidas como CUFETES, dão o tom da animação da torcida na medida certa. As LIBBRETES ajudam a preencher os intervalos, interagem com a torcida, puxam cantos de animação, além de coreografias coletivas e promovem distribuição de brindes para a arquibancada.
Graffiti
Os artistas visuais urbanos aproveitam os espaços públicos para interferir culturalmente na decoração da cidade. Suas obras costumam ter um caráter poético-político e compreendem desde simples rabiscos até grandes murais executados em espaços especialmente designados para tal. A arte do grafite está presente nos eventos de Basquete de Rua, com telas e painéis sendo executados ao entorno da quadra, enquanto acontecem as partidas.
Este elemento é mais um que compõe o leque de possibilidade desta cultura urbana, onde o Basquete de Rua está inserido.
Break
Dançarinos (as) também conhecidos como breaker boys (ou b-boy) e B-girls.
Desempenham o papel de simbolizar a situação de mutilação a que está submetido o povo pobre, seja pelas guerras, pelo desemprego, pelas drogas ou pelas desigualdades sociais. Realizando movimentos "de quebrar" (to break), esses (as) dançarinos (as) demonstram o desejo das comunidades em romper culturalmente com o sistema opressor e explorador, bem como o seu anseio por um mundo melhor. É na construção desse caminho que o Break se encontra com o Basquete de Rua, em uma dança histórica em direção a cultura urbana.
Skate
Por praticar um esporte radical nas ruas, calçadas, estacionamentos, quadras esportivas, entre outros lugares, ele é um grande representante da cultura de rua. O Skate tem cumprido um papel importante, não somente na formação e participação desses jovens nos eventos, como em uma competição paralela nas arenas da LIBBRA. O maior legado desenvolvido na relação entre o skate e o basquete tem sido a perspectiva de uma nova identidade para esses jovens que até pouco tempo eram alijados de toda e qualquer forma de emancipação.
Libbrinha
A partir de 2009, a CUFA passará a organizar um campeonato de basquete Sub-17, tanto para meninas quanto para meninos. Os jovens que participarão deverão ter idade entre 12 e 16 anos até o início do torneio.
O tempo de jogo e as regras serão as mesmas desenvolvidas pela Liga Brasileira de Basquete de Rua (LIBBRA), exceto em relação à altura das tabelas, que será de dois metros e oitenta e sete centímetros.
Os jogadores só poderão participar com permissão (por escrito) dos pais, além de atestado de saúde e todos os documentos exigidos pela Central Única das Favelas.
Atletas com idade superior a 17 anos somente poderão disputar a LIBBRA, e não mais a Libbrinha.
Presidente de Honra da LIBBRA
Nega Gizza é uma Rapper fundadora da Central Única das Favelas, nasceu no Parque Esperança, Baixada Fluminense. Se tornou a Presidente da Liga Brasileira de Basquete de rua por estar presente na ponta de todas as ações desenvolvidas pela instituição.
Gizza é a primeira Rapper a montar seu próprio selo, incentivando nas bases de luta o empreendedorismo; é a primeira locutora de rap em rádio FM no Brasil, e entre suas atribuições estão recepcionar todo o público, manter o bom relacionamento entre basqueteiros, grafiteiros, Mc's, Dj's, B-boys e todos os outros que participam ativamente do evento.
Vice – Presidente de Honra da LIBBRA
Mv Bill já possui uma carreira de sucesso dentro do mercado Hip Hop, transita
em vários seguimentos da sociedade e movimentos, entre eles , Social, o das favelas, movimento negro, de juventude. Recebeu vários prêmios por essas militâncias; entre os prêmios recebidos podemos destacar, Orilaxé ( Juventude ), Unesco ( Direitos Humanos, ) Onu ( Cidadão do Mundo, Barcelona ), vem se firmando como autor de Best Sellers, produzindo filmes e documentários.
Mas sua real revolução é a atuação com os jovens da CUFA , entidade que ajudou a fundar e ocupa a função de Vice - Presidente de Honra da LIBBRA. MV Bill também viu no Basquete de Rua uma forma de converter muito mais do que cestas , mas a vida de muitos jovens com origem parecida com a sua na Cidade de Deus, seu bairro, sua comunidade , sua favela. Para coroar em grande estilo essa relação, MV Bill nos brinda com o Hino da Liga Brasileira de Basquete de Rua que hoje também faz parte da construção dessa filosofia urbana chamada Basquete de Rua do Brasil .
Dialeto das Ruas
Afrouxar: Dar moleza.
Água de salsicha: Jogo ruim.
Apagado: Jogador que não fez nada, foi muito marcado.
Apagão: A jogada em que o atleta cobre a cabeça do outro com a camisa.
Apagar: Marcar muito um jogador, não deixá-lo evoluir em quadra.
Aqui não!!!: Toco.
Bagunçar: Esculachar, humilhar o adversário.
Barulho: Aplausos da Torcida.
Bater a carteira: Roubar a bola do adversário.
Bate-bola: Jogador que só dribla e não marca pontos.
Bebezão: Jogador que reclama de tudo.
Bicho: Jogador que ignora a marcação, nas enterradas.
Chapa quente: Jogo muito disputado.
Coca-Cola: Jogador ruim, que só tem pressão.
Coquinho: Quando o jogador bate com a bola na cabeça do seu adversário.
Cravada: Enterrada.
Dançar: Ser envolvido pelas manobras do adversário.
Entorta o Pé: Deixar o adversário no chão com um drible.
Espinha: Quando o jogador esconde a bola nas costas do adversário.
Espremedor de laranja: Dar um toco e prensar a bola na tabela.
Estilizo: Jogador que tem swing no jogo, e as roupas caem bem nele.
Freestyle: Movimentos livres feitos pelos jogadores.
Jogo de comadre: Jogo sem marcação, no qual todos fazem cesta.
Jogo de Futebol: Partida com poucos pontos.
Jump shot: Arremesso.
Ligação direta: Quando o jogador passa a bola para outro que está muito distante dele.
Mamão com açúcar: Quando o adversário é muito fraco.
Mano a mano: Quando um jogador chama o outro pra "dançar", na intenção de desmoralizá-lo.
Marrento: Jogador com muita pose.
Mascarado: Jogador metido a bonzão.
“Meu Deus": Expressões muito utilizadas pelo MC Max e que já é referência no Basquete de Rua.
Mr. M: Quando o atleta simula que passou a bola adiante e esconde-a entre as pernas.
Na Cabeça: Enterrada sobre marcação do adversário.
Na Cara: Cesta feita com marcação do adversário.
Pancadão: Perder ou vencer por uma diferença muito grande de pontos.
Pedra: Quando o DJ solta um som muito bom.
Pega-pega: fazer marcação homem a homem (ou mulher a mulher).
Ponte aérea: O jogador recebe um passe no alto quando está indo em direção a cesta e o completa com uma enterrada.
Se Liga: Quando o Jogador atira levemente a bola na testa do seu marcador.
Sem braço: Jogador muito ruim.
Seu Boneco: Quando o jogador esconde a bola na camisa.
Sinistro: Jogador muito bom.
Socada: Enterrada.
Tomar um sprite: Errar a cravada, prensando a bola no aro.
Traz o Troco: Quando o jogador finge que vai arremessar enganando o adversário fazendo-o pular.
Trombadinha: Jogador que rouba a bola do adversário.
Varrer: Dar um chega pra lá no adversário, expulsá-lo da sua área.
Esta é a primeira publicação de Basquete de Rua do Brasil
Desenvolvida por Celso Athayde (o Mesmo de “Falcão -Meninos do Tráfico” e “Falcão Mulheres e o Tráfico”) esta obra foi produzida no seio da CUFA- Central Única das Favelas com o objetivo de centralizar em um só espaço todas(até agora) regras e manhas do basquete urbano.
Fortalecer a prática do esporte através da cultura Hip Hop, é fomentar também a inclusão social, tirando da ociosidade, jovens das periferias de todo o país.
Celso Athayde viu nesta modalidade de esporte urbano a oportunidade e o desafio de alcançar mais jovens moradores de periferias com a linguagem que eles entendem bem, e desta forma, criar ferramentas para tirá-los do campo de visão do risco social. Dando a eles mais perspectivas de vida.
A CUFA hoje é a maior organizadora da prática do basquete de rua no Brasil, agregando cada vez mais parcerias para aumentar o número de jovens atendidos em suas bases por todo o território nacional.
Realização:
CUFA - Central Única das Favelas
www.cufa.org.br
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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