quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Obama e as favelas do mundo



Obama e as favelas do mundo

O processo de luta e busca por direitos básicos dos negros norte-americanos é histórico e muitas vezes foi banhado pelo sangue daqueles que buscaram por meio da luta política amenizar o sofrimento dos descendentes africanos oprimidos nas lavouras de algodão, portos e porões, perseguidos, torturados e mortos por membros da Ku Klux Klan e em grande medida por boa parte da sociedade por mais de um século. Homens como o pastor Martin Luther King, Malcom X, os Black Panthers e muitos artistas/ativistas do Hip Hop que por meio de seus atos políticos, discursos, músicas e organizações, buscaram desmantelar a segregação racial, tão exacerbada nos EUA, sentimento este que acaba por se reproduzir em várias esferas e poderes da sociedade americana, deixando “claro” para todos quais eram as intenções dos descendentes europeus na América, depois do genocídio quase total dos povos indígenas em todo continente reduzindo-os a pequenas reservas – nos EUA foram quase extinguidos do mapa – faltava agora “limpar” a nação dos negros.
Coincidentemente ou não os métodos usados foram bem parecidos com os que foram adotados aqui no Brasil, no sentido de minar a ascensão econômica, política e social dos negros, deixando-os á margem da sociedade e dos processos produtivos, expulsando-os dos espaços do centro e obrigando o deslocamento para áreas como morros, encostas, longe do centro urbano branqueado pela imigração européia no fim do século XIX, início do século XX, deixando um legado de miséria e favelização no Brasil, que desde o império adotou um sistema de concentração de renda, latifúndios, barões do café, senhores de engenho, enquanto a maioria dos homens e mulheres negros desse país sofriam e sofrem uma segregação racial e social tão drástica quanto a norte-americana, maquiada pelo discurso do trabalho, pela miscigenação da nação, desmistificando o ideário racista contido e implícito nas classes dominantes do Brasil.
O grito de liberdade contido na garganta por séculos de exploração do trabalho negro, por séculos de espoliação dos direitos humanos e agressão aos afro-americanos veio em forma de voto, mostrando ao mundo que é possível por meio da democracia trilhar caminhos outros que não seja os de interesse apenas de uma elite conservadora e protecionista... Obama traz as populações negras no mundo uma esperança jamais vista, no sentido de que os EUA tenham um novo olhar para com as favelas do mundo.
No Brasil a eleição de Barack Obama teve um efeito duplamente positivo, além de representar a ascensão do homem negro como o mais poderoso do mundo e toda a simbologia implícita neste ato, conciliou ainda, com uma data muito importante para milhões de brasileiros que vivem em áreas consideradas de risco, já que no ultimo dia 04 de novembro foi comemorado em várias capitais e cidades do país o dia da favela, uma iniciativa da Central Única das Favelas – CUFA que visa dar visibilidade às demandas das comunidades, bem como, promover ações que tragam um pouco de felicidade e auto estima um povo tão martirizado. É neste sentido que saudamos as favelas brasileiras e mundiais e brindamos com todos os seres humanos que lutaram e sonharam com esse momento.


Higor Marcelo Lobo Vieira
Estudante do 4º ano de Geografia pela UFGD e
Coordenador geral da CUFA MS

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

REUNIÃO CUFA E PREFEITO






CUFA LAGUNA SC

No último 31, um importante passo foi dado para os jovens que se encontram vulneráveis e invisíveis e em constante risco social no município de Laguna e região. Reuniram-se coordenadores da CUFA laguna e o Prefeito reeleito Célio Antônio (PT) para discutirem possíveis parcerias para o ano de 2009.

No encontro o prefeito assinou uma carta de intenções junto a CUFA para o próximo mandato.

· Fico firmado a doação de um terreno para a CUFA, local ainda não confirmado.

· A recuperação da área ao lado do campo do LEC ( Laguna Esporte Clube), na Vila Vitória onde existia uma quadra esportiva, um campo de futebol e vestiários, que hoje estão completamente destruídos e a aréa virou um lixão, depois da recuperação irão ficar sobre responsabilidade da CUFA.

· E que a CUFA deve apresentar um projeto para a realização em conjunto em 2009.

· E a construção de uma pista de skate, modalidade street com 280 m2.



Os coordenadores da CUFA fizeram uma explanação sobre o encontro nacional da CUFA em Brasília, onde participaram, sobre o pronasci que a principio vai estar em 16 estados e Santa Catarina não foi contemplado, mais que pode vir a receber ações do projeto e sobre a LIBBRA para 2009.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Questão de respeito

A Central Única das Favelas, Cufa, vem por meio desta, informar a quem possa interessar, que a coordenadora do Núcleo Maria Maria, da Central Única das Favelas – Cufa, de Salvador (BA), Ítala Herta, foi vítima de agressão policial no último sábado (25) enquanto voltava de um evento rumo ao Bairro da Boca do Rio, localizado na periferia da cidade. A agressão foi ocasionada por uma atitude, no mínimo impensada, do taxista que conduzia Ítala e mais dois amigos.

Sem qualquer motivo aparente, o taxista Cezar Augusto da Silva Purificação chamou a polícia suspeitando ser assaltado. Os policiais, por sua vez agrediram a moça e seus colegas física e moralmente, mesmo após comprovarem que não ofereciam risco algum.

A Cufa lamenta o ocorrido, não apenas por ter uma de suas integrantes envolvidas no caso, mas pelo estado de insegurança instaurado, que leva cidadãos a viverem apavorados e agirem inconscientemente, que leva a polícia a agredir antes de averiguar os fatos, que leva centenas de moradores das favelas a serem constantemente violentados em sua integridade moral e física, mesmo sem motivo aparente.

Muito mais que lamentar, a Cufa trabalha incansavelmente a fim de transformar a realidade das favelas brasileiras. Para isso, conta com parceiros como a Polícia Comunitária no desenvolvimento de ações de prevenção ao crime e à marginalidade. Tudo isso para que todos os cidadãos de bem possam ter seus direitos respeitados e sua dignidade garantida.

Segue abaixo o depoimento de Ítala Herta sobre o acontecido na madrugada do dia 25:

Era 00h30min de sábado quando falei para Henrique e Saturnino, dois amigos que me acompanhavam em um evento que estava ocorrendo no Centro Histórico de Salvador (Pelourinho), que queria ir embora, pois estava cansada. Fomos. Destino? O Bairro da Boca do Rio. Como todos os três moram próximos, decidimos dividir um táxi "amenizaria os ricos de sermos confundidos ou assaltados" (pensávamos). Ainda na saída do Pelô encontrei minha tia (Nelma Suely), meu tio (Wilson Freitas) e o meu primo (Rafael Melo) e recusei o convite de ir para o ensaio do Ilê Ayê no bairro da Liberdade, reforçando a afirmação anterior de querer ir logo para casa. Cumprimentamos-nos, eles entraram no carro e eu e os meus dois amigos continuamos andando em direção à Praça da Sé onde solicitamos o serviço de táxi do Cezar Augusto da Silva Purificação. Ainda no meio do caminho, o carro do meu tio acompanhava o táxi, nos cumprimentamos de longe, tudo parecia muito tranqüilo dentro do carro, a conversávamos sobre o final da noite, o evento, o lugar por onde passávamos.

Chegando ao início da ladeira da Fonte Nova o taxista parou o carro alegando que uma das portas se encontrava aberta. Abrir e fechei minha porta e pedi aos outros que conferissem as outras portas, todos disseram "não tem nenhuma porta aberta!", eu complementei: "por favor, taxista leve o carro adiante pois tenho medo de assalto". Olhando pelo retrovisor ele ligou a lanterna do carro sinalizando algo, nenhum dos três entendia o motivo dele ter parado naquele local àquela hora. Nesse mesmo momento, ainda com o carro parado, Cezar Augusto começou a gritar e a se debater dentro do carro. De maneira muito rápida, travou as portas do carro com os três dentro e saiu do carro gritando e afirmando que era um assalto, que eu e mais os meus dois amigos éramos assaltantes! Nesse exato momento uma viatura da Policia Civil, pela qual nos tínhamos passado sem perceber antes da ladeira, atendeu aos sinais e acusações do taxista.

Com armas em punho, os policiais gritavam e mandavam todos deitarem no chão. Eu e os meus amigos, desesperados com os gritos e as acusações do taxista diante da policia, saímos pela única porta aberta do táxi. Nesse momento eu cair com a cara no chão. Os meninos já estavam rendidos. Eu me levantei, desesperada e com a roupa ensangüentada, pedindo para que os policiais não atirassem, afirmando que éramos inocentes, que a abordagem deles era ilegal, um dos policiais pegou no meu braço me jogou no chão e em voz alta e com arma apontada para minha cabeça falou:" cala boca sua puta!, ilegal o quê sua vagabunda?" Me viraram de costa. No chão e com a cara no asfalto, rendida, começaram a me revistar, levantaram minha blusa procurando a arma, abaixaram a roupa de Saturnino. Henrique, também rendido pelos os policiais clamava para nenhuma daquelas armas disparar contra nós.

Lembra do meu tio? Deus que o colocou no nosso caminho, atendendo ao pedido do meu primo que reconheceu que o táxi parado era o meu, eles pararam o carro a alguns metros de distância e subiram a ladeira correndo gritando pelo o meu nome pedindo para não atirar, pois eram pessoas inocentes que se encontravam no chão. Minha tia, já pensava o pior ao me ver no chão ensangüentada.



Ainda no chão, os três, humilhados e rendidos, olhavam para o taxista, que a essa altura tinha se tocado na atrocidade que havia cometido. Mesmo assim, fomos interrogados no local e encaminhados (e não acompanhados) à delegacia, o que se significa que a vitima não era Ítala, Saturnino e Henrique, mas sim o taxista!

Levei cinco pontos no queixo e ainda estou com hematomas no meu corpo. Na delegacia, fizeram meus amigos mostrar se realmente tinham dinheiro para pagar o serviço de taxi. Tentaram nos coagir, um deles afirmando conhecer o Henrique de algum lugar. Enquanto eu reivindicava nossos direitos, outro policial me mandavaeu sair da frente e me sentar bem longe de suas vistas. Justificavam que o Cezar Augusto era um trabalhador assustado, vitima de assalto por três vezes.

Este é apenas um retrato da violência que atinge milhares de cidadãos brasileiros. Um relato que se repete todos os dias em cada periferia. Um quadro que a Cufa, ao lado de seus parceiros, luta para mudar e acredita que um dia será diferente.