quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mudanças na CUFA


Anderson Quak assume a secretaria Geral e Celso Athayde, o conselho da Liga dos empreendedores.

Há 15 anos começava uma nova fase de empreendedorismo na minha vida, o empreendedorismo Social. Era o nascimento da cufa dentro da minha distribuidora de CDs de Hip Hop em Madureira, no Rio de Janeiro.  Nesse escritório trabalhava comigo uma dupla que passou a fazer parte da minha história. Minha ex-faxineira Nega Gizza e meu ex-cobrador e lustrador, MV Bill.

Essa veia empreendedora me acompanhava desde garoto, desde a Favela do Sapo e das ruas onde morei com minha família. Antes dessa empresa eu já havia experimentado outros negócios como camelô em Madureira, produção de bailes, birosca, venda de limão e alho na feira, só para citar algumas atividades.  Mas a transformação na minha vida se deu de fato quando criei a CUFA – Central Única das Favelas – em nome de uma luta que hoje me orgulha e muito.

De lá pra cá, essa tal de Central Única das Favelas só fez crescer. Há pouco mais de 3 anos anunciei que em 2012 seria o meu último ano na organização, quando depois dos 10 anos[1] de dedicação eu destinaria meu tempo a outros desafios e à família. E também porque, uma liderança precisa ter a sensibilidade de perceber o talento e a capacidade da nova geração para promover as mudanças e atualizações nos processos de construção de uma organização. O primeiro passo foi dado em 2010 quando MV Bill e Nega Gizza passaram suas faixas de presidente e vice da Cufa para os atuais comandantes nacionais: Preto Zezé (CE) e Dinorá Rodrigues (RS).

Essa transição só foi possível pelo esforço que a Cufa tem em formar novos quadros, capazes de manter o trem no trilho. Nesse processo os invisíveis se tornaram visíveis e fortes, sinônimos da própria Cufa.  Muitas vezes um bando de gente buscando a sua próxima fase, de empreendedor nato pela simples necessidade de sobrevivência.

Há tempos percebo as transformações que ocorrem nas favelas impulsionadas pelo empreendedorismo. Pessoas que acreditam em seus sonhos, se desenvolvem no meio da adversidade e transformam boas ideias em realidade. Foi esse pensamento e a necessidade de criar um ambiente favorável aos negócios dentro das favelas que nos levou a criar a LEC (Liga dos Empreendedores Comunitários).

Cada dia tenho mais convicção que a nova fase da emancipação das favelas passa necessariamente pelo fortalecimento da livre iniciativa e do empreendedorismo. Hoje, as favelas são um mercado consumidor de mais de 50 bilhões de reais. Se as favelas brasileiras fossem um estado da federação, seriam o 5º maior estado do país. A tal da Nova Classe Média cresceu mais nas favelas do que no restante do Brasil. Simplesmente não dá para ignorar o potencial que este novo mercado significa não só para as grandes empresas, mas principalmente para o empreendedor que mora na favela.

Como disse anteriormente, o meu prazo de validade termina justamente agora em 2012, quando vejo a nossa  família presente em todos os estados, fortalecida e fazendo a diferença na vida das populações das favelas do Brasil.  Num momento em que estes territórios recebem todos os holofotes pela determinante importância na economia do país. O que faz deste,  o momento mais adequado para a transição, para uma revolução interna, impulsionada inclusive pela profissionalização em gestão de lideranças da Cufa orientada pela Fundação Dom Cabral.

A cufa é hoje um filho que cresceu, mas continua filho e precisa de cuidados e eu vou continuar aqui, perto e cuidando desse lindo que me enche de orgulho.

Saio hoje do dia-a-dia da Cufa e a pedido do presidente, Preto Zezé, descanso até o dia 03 de janeiro, para tirar minhas primeiras férias em 15 anos de trabalho na cufa. Mas depois eu volto para  contribuir com o que acredito ser o próximo passo do verdadeiro desenvolvimento das favelas.

Acredito no empreendedorismo. Acredito que empresários de sucesso, surgirão nas favelas e em um futuro próximo irão inspirar nossas crianças, tanto quanto os jogadores de futebol e os músicos. Por acreditar no empreendedorismo como porta de saída da pobreza e da discriminação, passo hoje, dia 04 de Dezembro de 2012, para o irmão e amigo ANDERSON QUACK o Anu preto-Rio, que representa simbolicamente a missão de coordenar a excelente equipe da Cufa-Rio e o papel de Secretario Geral, e passo a me dedicar exclusivamente ao conselho da LEC, com o mesmo entusiasmo que tive quando na fundação da CUFA, ajudando e dando exemplos. Mostrando que não existe alternativa melhor, mais promissora e íntegra do que o sucesso construído às custas de muito suor e trabalho. Podem acreditar.

Daqui pra frente não faltarão exemplos de empreendedores de sucesso nas favelas brasileiras. Vida muito longa a cufa  e nossos agradecimentos a todos aqueles que estiveram do nosso lado estimulando cada um de nós na caminhada.  Obrigado também àqueles que nunca acreditaram em nós, vocês também foram fundamentais .

Vida longa a todos os amigos da cufa.

Boas festas e Feliz ano novo,

Celso Athayde.





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