Anderson Quak
assume a secretaria Geral e Celso Athayde, o conselho da Liga dos
empreendedores.
Há 15 anos começava uma nova fase de empreendedorismo na minha
vida, o empreendedorismo Social. Era o nascimento da cufa dentro da minha
distribuidora de CDs de Hip Hop em Madureira, no Rio de Janeiro. Nesse
escritório trabalhava comigo uma dupla que passou a fazer parte da minha
história. Minha ex-faxineira Nega Gizza e meu ex-cobrador e lustrador, MV Bill.
Essa veia empreendedora me acompanhava desde garoto, desde a
Favela do Sapo e das ruas onde morei com minha família. Antes dessa empresa eu
já havia experimentado outros negócios como camelô em Madureira, produção
de bailes, birosca, venda de limão e alho na feira, só para citar algumas
atividades. Mas a transformação na minha vida se deu de fato quando criei
a CUFA – Central Única das Favelas – em nome de uma luta que hoje me orgulha e
muito.
De lá pra cá, essa tal de Central Única das Favelas só fez
crescer. Há pouco mais de 3 anos anunciei que em 2012 seria o meu último
ano na organização, quando depois dos 10 anos[1] de dedicação eu destinaria meu tempo a
outros desafios e à família. E também porque, uma liderança precisa ter a
sensibilidade de perceber o talento e a capacidade da nova geração para
promover as mudanças e atualizações nos processos de construção de uma organização.
O primeiro passo foi dado em 2010 quando MV Bill e Nega Gizza passaram suas
faixas de presidente e vice da Cufa para os atuais comandantes
nacionais: Preto Zezé (CE) e Dinorá Rodrigues (RS).
Essa transição só foi possível pelo esforço que a Cufa tem em
formar novos quadros, capazes de manter o trem no trilho. Nesse processo os
invisíveis se tornaram visíveis e fortes, sinônimos da própria Cufa.
Muitas vezes um bando de gente buscando a sua próxima fase, de
empreendedor nato pela simples necessidade de sobrevivência.
Há tempos percebo as transformações que ocorrem nas favelas
impulsionadas pelo empreendedorismo. Pessoas que acreditam em seus sonhos, se
desenvolvem no meio da adversidade e transformam boas ideias em realidade.
Foi esse pensamento e a necessidade de criar um ambiente favorável aos negócios
dentro das favelas que nos levou a criar a LEC (Liga dos Empreendedores
Comunitários).
Cada dia tenho mais convicção que a nova fase da emancipação das
favelas passa necessariamente pelo fortalecimento da livre iniciativa e do
empreendedorismo. Hoje, as favelas são um mercado consumidor de mais de 50
bilhões de reais. Se as favelas brasileiras fossem um estado da federação,
seriam o 5º maior estado do país. A tal da Nova Classe Média cresceu mais nas
favelas do que no restante do Brasil. Simplesmente não dá para ignorar o
potencial que este novo mercado significa não só para as grandes empresas, mas
principalmente para o empreendedor que mora na favela.
Como disse anteriormente, o meu prazo de validade termina
justamente agora em 2012, quando vejo a nossa família presente em todos
os estados, fortalecida e fazendo a diferença na vida das populações das
favelas do Brasil. Num momento em que estes territórios recebem todos os
holofotes pela determinante importância na economia do país. O que faz
deste, o momento mais adequado para a transição, para uma revolução
interna, impulsionada inclusive pela profissionalização em gestão de lideranças
da Cufa orientada pela Fundação Dom Cabral.
A cufa é hoje um filho que cresceu, mas continua filho e precisa
de cuidados e eu vou continuar aqui, perto e cuidando desse lindo que me enche
de orgulho.
Saio hoje do dia-a-dia da Cufa e a pedido do presidente, Preto
Zezé, descanso até o dia 03 de janeiro, para tirar minhas primeiras férias em
15 anos de trabalho na cufa. Mas depois eu volto para contribuir com o
que acredito ser o próximo passo do verdadeiro desenvolvimento das favelas.
Acredito no empreendedorismo. Acredito que empresários de
sucesso, surgirão nas favelas e em um futuro próximo irão inspirar nossas
crianças, tanto quanto os jogadores de futebol e os músicos. Por acreditar no
empreendedorismo como porta de saída da pobreza e da discriminação, passo hoje,
dia 04 de Dezembro de 2012, para o irmão e amigo ANDERSON
QUACK o Anu
preto-Rio, que representa simbolicamente a missão de coordenar a excelente
equipe da Cufa-Rio e o papel de Secretario Geral, e passo a me dedicar
exclusivamente ao conselho da LEC, com o mesmo entusiasmo que tive quando
na fundação da CUFA, ajudando e dando exemplos. Mostrando que não existe
alternativa melhor, mais promissora e íntegra do que o sucesso construído às
custas de muito suor e trabalho. Podem acreditar.
Daqui pra frente não faltarão
exemplos de empreendedores de sucesso nas favelas brasileiras. Vida muito longa
a cufa e nossos agradecimentos a todos aqueles que estiveram do nosso
lado estimulando cada um de nós na caminhada. Obrigado também àqueles que
nunca acreditaram em nós, vocês também foram fundamentais .
Vida longa a todos os amigos da cufa.
Boas festas e Feliz ano novo,
Celso Athayde.