quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Fora Cônsul do Haiti
A Central Única das Favelas (CUFA) vem tornar público que entrou com uma representação junto ao Ministério Público de São Paulo solicitando instalação de inquérito por conta das declarações proferidas, em rede nacional, pelo Srº Gerge Samuel Antoine, cônsul geral do Haiti em São Paulo.
Nesta mesma data, informamos que estamos apresentando noticia-crime nos seguintes órgãos: Embaixada do Haiti; Ministério da Justiça; Ministério de Relações Exteriores; Secretaria Especial de Políticas de Promoção para Igualdade Racial (SEPPIR); Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH); Secretaria Nacional de Segurança; Presidência da Republica e Casa Civil.
Carta ao Embaixador do Haiti
Brasília, 20 de janeiro de 2010.
À EMBAIXADA DA REPÚBLICA DO HAITI NO BRASIL
SHIS QI 10, conj. 6, casa 16 – Brasília - DFA/C
Exmo. Sr. Embaixador Idalbert Pierre-Jean
A Central Única das Favelas (CUFA) do Brasil vem expor e requerer a V.exª.. o que se segue.
O cônsul do Haiti em São Paulo, Gerge Samuel Antoine, apareceu em reportagem exibida na noite da última quarta-feira, dia 13 de janeiro de 2010, no programa de televisão "SBT Brasil", veiculado em rede nacional, dizendo que o recente e trágico terremoto que atingiu o Haiti, causando imensa destruição e morte de milhares de pessoas, estaria "sendo bom" para seu trabalho e que a tragédia poderia ter ocorrido por causa da religião praticada por boa parte dos haitianos, descendentes de africanos, os quais foram no discurso do cônsul qualificados como amaldiçoados.
A inaceitável manifestação se deu nos seguintes termos: "A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá fudido".
Veja o vídeo do Cônsul Haitiano.
http://www.youtube.com/watch?v=8GOCjk4L7S0&feature=related
Num momento em que o mundo volta sua solidariedade para o povo do Haiti, para os negros do Haiti, deve ser repugnada qualquer manifestação de racismo, preconceito e ódio à cultura religiosa de matriz africana, extensível a todos os brasileiros. Assim, a infeliz manifestação do cônsul é indesculpável, e se for pelo governo brasileiro, não o será em nome dos mais diversos movimentos sociais nacionais, notadamente por não ser capaz de afastar o impregnado ideal preconceituoso revelado por quem ocupa tão digno cargo representativo, de forma absolutamente incompatível com suas funções.
A semente do desamor e do oportunismo selvagem deve ser erradicada de nossas terras, sobretudo num momento de dor não só para todo o povo haitiano como para todos aqueles que têm por ideal o alcance da dignidade da pessoa humana, e que se esforçam, solidariamente, na tentativa de amenizar os terríveis efeitos desta tragédia natural que assolou a República do Haiti.
Neste sentido a Central Única das Favelas (CUFA), entidade representativa em todo território nacional e com bases internacionais (Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, Hungria, Itália, Paraguai, Portugal, USA e Angola), vem por meio desta solicitar a V.Exa. que sejam tomadas as devidas providências com vistas ao afastamento imediato do cargo consular ocupado pelo Sr. Gerge Samuel Antoine, diante da manifesta incompatibilidade por reforçar convicções preconceituosas, desumanas e contrárias à cultura da paz.
Pede-se tal ação como símbolo de respeito aos irmãos e irmãs haitianos, à dignidade do povo brasileiro e como resposta às agressões dirigidas à cultura advinda de África, de onde fazemos parte, ainda que alguns neguem.
Por fim, aguardando a manifestação de V.Exa., e esperando que o pensamento adotado pelo cônsul Gerge Samuel Antoine não represente a posição da Embaixada do Haiti no Brasil, cumpre informar que a manifestação ora repugnada embasa notícia-crime a ser oferecida pela CUFA ao Ministério Público nesta data, ante a eventual prática dos crimes de preconceito racial e religioso, tipificados no artigo 20, da lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989.
Atenciosamente,
DANILLO BITENCOURT (BA) - Presidente
KALINE LIMA (PB) – Vice-presidente
PRETO ZEZE (CE) – Articulador nacional
DINORA RODRIGUES (RS) - Conselheira
MV BILL (RJ) - Presidente de Honra
KARINA SANTIAGO (MT) - Direção Nacional
NEGA GIZZA (RJ) - Coordenação Rio de Janeiro
ANNA SABBAGG (SP) - Coordenação São Paulo
MOÇÃO DE REPUDIO
Historicamente todos os símbolos que traduzem a herança africana foram usurpados, relegados à condição de subalternidade e negados do processo de contribuição da formação da cultura brasileira, a exemplo disso citamos a religião. Homens e mulheres tiveram que criar formas de resistência e camuflar sua fé, originando ao que conhecemos como sincretismo religioso. Pois bem, o bonde da história se movimenta e hoje seguidores e seguidoras das religiões de matriz africana em todo país, engrossam as fileiras da luta contra a intolerância religiosa, se pautando inclusive na Constituição brasileira, quando garante a liberdade de culto. É preciso rememorar que a perseguição religiosa culmina em várias formas de violência, ferindo os direitos da pessoa humana.
Neste contexto de releituras e circularidade cultural, surge o inaceitável, duras manifestações de preconceito a cultura africana na diáspora conjugada a requinte de crueldade de colarinho branco. Tudo traduzido no nefasto comentário do cônsul geral do Haiti em São Paulo, o Srº Gerge Samuel Antoine, que em meio à comoção mundial pelo duro golpe que a natureza deu no Haiti e que arrasou vidas, repartiu famílias e dilacerou o resquício de esperança do povo haitiano, disse "A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f..." (fonte: SBT Brasil)
Num momento em que o mundo volta sua solidariedade para o povo do Haiti, os negros do Haiti, deve ser repugnada qualquer manifestação de racismo, preconceito e ódio à cultura religiosa de matriz africana, extensível a todos os brasileiros. Assim, a infeliz manifestação do cônsul não pode ser desculpada, e se for pelo governo brasileiro, não o será em nome dos mais diversos movimentos sociais nacionais, notadamente porque entendemos que esse pedido de desculpas se dá pelo fato do seu pensamento ter se tornado público, nada mais. Ter em nossas terras um homem que semeia o desamor e o oportunismo selvagem, sobretudo, num momento de dor, é como cultivar um câncer em nosso país. Não basta ter que conviver com os nossos racistas ainda vamos ter de nos omitir sobre essa reprovável manifestação de racismo?Até quando vamos ter que conviver com o mito da igualdade racial e as várias facetas que o preconceito apresenta?
Neste sentido a CUFA - Central Única das Favelas, entidade representativa em todo território nacional e com bases internacionais (Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, Hungria, Itália, Paraguai, Portugal, USA e Angola), vem por meio dessa moção solicitar ao governo brasileiro que encaminhe esse senhor a acalmar todo seu sentimento em outras terras e que assim seja imediatamente convidado a deixar essa casa nação brasileira, bem como, o afastamento imediato do cargo que ocupa, por ser incompatível com suas convicções racistas, desumanas e contrária a cultura da paz. É preciso que as instâncias de poder se posicionem e intervenham, como símbolo de respeito aos ossos irmãos e irmãs haitianas, à dignidade do povo brasileiro e como resposta as agressões proferidas à cultura advinda de África, pois somos parte dela mesmo que neguem.
Por fim, nos negros e não negros brasileiros e brasileiras afirmamos que não temos nenhuma maldição e como tal desejamos a ele toda a sorte e felicidade do mundo em outra missão que não seja a de representar os negros do Haiti em território brasileiro. E se ainda assim o Srº Gerge Samuel Antoine continuar como referência do povo do Haiti no Brasil então deveremos reconhecer que realmente somos um povo amaldiçoado.
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